O projecto “Ceráunia” parte duma relação de paralelismo livremente estabelecida entre achados arqueológicos da cidade de Braga, numa proposta de diálogo entre 3 elementos: a inscrição romana que se encontra numa das pedras da Sé de Braga, que testemunha a cerimónia formal de refundação da cidade, envolvendo o enterro de um raio; a Fonte do Ídolo – o santuário rupestre bracarense (curiosamente localizado na atual Rua do Raio) e que inclui iconografia associada ao trovão, nomeadamente, o martelo de pedra do frontão que encima a estátua do deus Tongoe Nabiago; e os bifaces, instrumentos que assinalam os mais antigos registos de instrumentos da humanidade (remetendo-nos aos inúmeros exemplares que estão ao cuidado do Museu de Arqueologia D.Diogo de Sousa). Estes últimos, seriam entendidos na sabedoria popular como ceráunias* ou pedras de raio, por se encontrarem enterradas na terra, acreditando-se terem caído com o raio (pelo seu formato pontiagudo remeteriam à ponta de um raio).
A convergência faz-se assim, não apenas pelas inevitáveis coincidências simbólicas, mas pelo elemento material da pedra, como símbolo de uma intervenção mágica.
    Numa especulação em torno dos elementos e contextos referidos, concebemos as paredes de pedra do Museu da Imagem simultaneamente como superfícies de projeção e elementos cenográficos, participantes de uma sobreposição simbólica.

* do Grego keraunos, raio