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A brisa do maremoto
2021  

Appleton [BOX], Lisboa

Joana Patrao_ A brisa do maremoto 2021.jpg

A brisa do maremoto     2021

projeção de vídeo instalada no chão, 122 x 231 cm, DCI 4K (nativo - 4096 x 2160), 17:9, cor, 5'35'', som stereo, loop.

Vistas da exposição,  Appleton [BOX], Appleton - Associação Cultural, Lisboa

© Créditos fotográficos: Joana Patrão (1) e Bruno Lopes (2, 3)

     A brisa do maremoto assume-se como um espaço de instabilidade, que encontra na pedra de lioz e na sua relação com a cidade de Lisboa o seu motivo de exploração: desde a história natural de formação do lioz (que remonta há cerca de 97 milhões de anos, quando o território de Lisboa estava submerso num mar, tal como testemunhado pela presença fóssil dos rudistas); à sua história de extração e aplicação na cidade (em que se transforma num material nobre, símbolo de ostentação e poder); até ao seu papel na reconstrução da mesma cidade, após o terramoto, o maremoto e o incêndio de 1755. Na sedimentação, no uso enquanto pedra ornamental (que se prolonga até aos dias de hoje) e na sua consequente erosão, o lioz congrega em si uma série de forças conflituantes, que são trabalhadas nesta instalação.
    O tremor constante do vídeo, resultado da instabilidade da câmara à mão, que deambula por várias pedras de lioz na cidade, alia-se ao processo de montagem, que considera o tempo como matéria escultórica. Entre dissoluções, cortes e modelações, sugerem-se as mutações temporais e físicas do lioz — a sedimentação, a fissura, a erosão.
    O som, por sua vez, constrói-se através da manipulação das falhas, hesitações, respirações e silêncios presentes nas gravações da leitura de textos (excertos, apontamentos e referências), que foram sendo acumulados ao longo da construção do projeto. Estes processos de formação e manipulação procuram aproximar as falhas do corpo às falhas geológicas, abrindo-se a possibilidade de especulação, e imersão, nestes interstícios.
    Paradoxalmente, é a reflexão sobre o tempo geológico, que nos localiza num tempo muito maior do que a nossa escala, que se torna fundamental para redimensionar a nossa relação com os lugares que habitamos.
    Se por um lado, os fósseis que calcamos recordam, através da sua formação, a ameaça de subida das águas do mar, por outro, a sua fossilização relembra o desaparecimento dos rudistas, resultado da última grande extinção em massa. Na invocação deste chão instável, A brisa do maremoto é uma reflexão sobre o passado, numa ansiedade de futuro.

A brisa do maremoto     2021

projeção de vídeo instalada no chão, 122 x 231 cm, DCI 4K (nativo - 4096 x 2160), 17:9, cor, 5'35'', som estéreo, loop .

Vista da exposição na Appleton [BOX], Appleton - Associação Cultural, Lisboa

Joana Patrao - A brisa do maremoto 2021 - 1.00_00_00_00.Still001.jpg

A brisa do maremoto     2021

fotogramas de vídeo DCI 4K (nativo - 4096 x 2160), 17:9, cor, 5'35'', som stereo, loop .

https://joanapatrao.wistia.com/medias/t2qio1vkn5

Apoiado por: Appleton - Associação Cultural

Agradecimentos especiais a: Tiago Madaleno, Leonor Lloret, Vera Appleton, Balaclava Noir e Pedro Canoilas

 

Colecção António Cachola

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