Suspensão e vertigem
2024

Integrado no projeto "O Estado da Água", residência artística no Sabugueiro, Serra da Estrela

     A atenção às metamorfoses da água e à modelação do território da aldeia de montanha do Sabugueiro acompanhou os vários momentos de residência, em diferentes estações do ano. A artista registou o nevoeiro, a neve, a chuva, os fluxos das ribeiras do Covão do Urso, de Fervença e do rio Alva e imergiu neles. Atentou na relação destas águas com a geomorfologia: desde o granito arredondado pelas correntes fluviais aos vestígios do passado glaciar que moldou o local.
    Entre uma imagem aparentemente estática e uma imagem em movimento, “Suspensão e Vertigem” retrata a experiência dessa paisagem em fluxo influenciada pela natureza cíclica da água. Num limbo entre definição e indefinição, apagamento e regeneração, numa transformação constante que incorpora a mutabilidade desse elemento.
    Vertical, a fotografia opalina imita a queda da neve, conduzindo o olhar para a inevitabilidade de um “filme vertiginoso”. Oscilando constantemente entre estar à superfície e estar imerso, esta “vertigem” invoca uma sensação de queda e um chão que se mexe, numa atração por essa superfície aquosa que se abre e se molda para acolher a entrada de um corpo.
    Em “Granito em fluxo”, o foco é a ação silenciosa da água que modela o granito de Seia, característico da Serra da Estrela, revelando as diferentes texturas que vão surgindo dessa transformação lenta.

    Nestas obras, diferentes temporalidades e matérias confluem no fascínio pela “constância generativa da Terra”, pelo potencial da experiência mediada (a máquina de filmar como olho expandido) e, por fim, pelo vídeo como forma de esculpir o tempo.