A linha em fluxo
2015-2019
Lugar do Desenho, Fundação Júlio Resende
Desenho natural. A água flui na linha 2019
Vista da exposição no Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende
De uma ideia de confluência entre o ato de desenhar o mar e a incorporação da sua fluidez surge a presente exposição. É a identificação da linha com a fluidez da água, a percepção dos veios da rocha como linhas desenhadas ao longo da fluidez do tempo. É também o reconhecimento do corpo e, por consequência, do gesto e das suas instabilidades, como partes integrantes de um discurso natural.
Abordando dois meios de encontro com o mar, a exposição adopta também duas vias, evocando diferentes temporalidades. Por um lado, apresenta a tentativa de correspondência da linha desenhada com a ondulação, num exercício háptico que requer a presença do mar. Por outro, propõe a ideia de construção de um mar autónomo, ditado pelo compromisso de desenhar um mar-diário.
Esta exposição propõe dar acesso a este processo de diálogo com o mar, com exercícios vários de encontro, com fragmentos de pensamentos e, por fim, com a materialização de um mar, construído através da linguagem do desenho. Uma forma última de identificação com o referente, trazido simbolicamente para o espaço expositivo.
A linha como traço do movimento das ondas 2015
caneta sobre papel vegetal, 15 x 20 cm
Diários - mar construído (apontamentos) 2019-...
caneta sobre papel vegetal, 75 x 151 cm
a partir de notas presentes em Diários - um mar diário (2015-,,,), série de diários, caneta sobre papel.
Diários - mar construído 2016-2019
impressões a preto e branco sobre acetato, 612 desenhos, 237 x 378 cm.
De Diários - um mar diário (2015-...), série de diários, caneta sobre papel.
Desenho natural (sem data)
pedra recolhida na praia do Rio de Moinhos, Esposende
Diários - um mar diário 2015-...
série de diários, caneta sobre papel.
Desenhar um mar por dia é a premissa que dá origem a estes diários.
Iniciados a 16 de Setembro de 2015 são um projeto em contínuo.
Feitos todos os dias, o tempo, a data e o local são apontados. São assumidos enquanto fenómenos naturais, obedecem a um padrão e ainda assim são irrepetíveis. São essencialmente desenhos meditativos que permitem rememorar o mar ou captar novas ondulações. Manifestações dos meus estados internos ou reverberações de situações externas.
O exercício é simples — começando com uma linha horizontal no topo da página, no fosso que se abre no meio do caderno, linhas sucessivas são desenhadas absorvendo e repetindo as instabilidades do meu gesto, das minhas falhas naturais/orgânicas, ondulações próprias. A linha desenhada é um vestígio do corpo, uma afirmação de presença.
As falhas do corpo, resultantes do cansaço, de pequenos espasmos incontrolados, influem nas linhas desenhadas. Além disso, procuram-se dissolver as fronteiras entre o que ocorre na folha e o contexto em que o desenho é feito. Procuram-se mecanismos para não controlar totalmente a imagem (para além do descontrolo do corpo) — deixar que ela esteja aberta à influência do ambiente/das condições em que é feita e deixar, com isto, que seja também uma manifestação desse ambiente envolvente.
No momento de exposição estes desenhos são apresentados em extensão, como uma porção de mar - um mar em crescimento que cresce em superfície à medida que os meus dias passam. É um mar simulado, que sempre que for reapresentado será maior e terá consigo mais desenhos, tal como os dias que passam entre as suas apresentações.
5 minutos de desenho - cieba, FBAUL