O sopro fóssil  
2022

     “O sopro fóssil” surge na continuidade da exposição “A brisa do maremoto”, uma instalação de vídeo e som apresentada em outubro de 2021, na Appleton [Box], em Lisboa, que se focava da pedra de lioz (calcário fossilífero de origem sedimentar marinha) para fazer uma relação com a paisagem local. Aí, os fósseis aprisionados na pedra, visíveis por toda a cidade, surgiam em diferentes estados de conservação, degradação, fratura e erosão. Se por um lado, a história de formação do lioz nos remete a uma ameaça de aquecimento e subida das águas do mar, por outro a sua fossilização remonta à última grande extinção em massa. 

     Nesta mudança de lugar, longe dessa paisagem, mas seguindo a mesma consciência, a instalação transforma-se, a sua forma desfaz-se, e os fósseis desintegram-se. Aqui, já não temos a pedra, o tempo contido, mas a aridez, a areia seca que remonta a um mar longínquo, a areia de contagem do tempo e a areia que apaga as pegadas, apaga os vestígios, a areia do esquecimento. 

     Um eco propaga-se pelo espaço e, no lugar dos fósseis, surge a palavra dita e desenhada, numa dinâmica especulativa (de reflexão e reflexo). Desde a pedra formada no mar ou a areia desfeita por este, testemunhamos um tempo que nos ultrapassa: o tempo geológico, de sedimentação e o tempo de erosão, inapreensível, inevitável.